- Se puder responder, responderei!
- Estás carente?
- Vou contar-te uma história, e é assim;
Era uma vez,
uma menina que estava sentada numa duna, o dia lá às vezes era claro e brilhante, fazia sol e muito calor, outras vezes escurecia, fazia vento e vinha a noite espantosamente fria e pavorosa. Mas a menina estava sempre ali, sentada, de pernas esticadas, outras vezes enlaçadas ou mesmo juntas ao peito, estava sentada, para ela o tempo não dizia nada, não conhecia a palavra nem sabia o seu significado e muito menos o seu sentido. Conhecia nos seus olhos coloridos a luz do sol e o calor, conhecia o escuro da noite e o vento frio. Abria um sorriso radioso quando a leve brisa desenhava “ss” de areia no seu rosto branco vivamente liso, esfoliado pela areia constante. Os seus cabelos finamente rebeldes esvoaçavam em bandeira ao sabor das correntes quentes e frias do alto daquela duna. Tinha vezes que incrivelmente por cima dela delineava-se um gigante círculo perfeito de sombra, que ia diminuído ao ritmo da areia que lhe caia sobre o colo e escorregava pelo ventre. A duna aumentava e com ela diminuía a sombra e engrandecia a esperança, a menina não sabia de que esperança se tratava, nem se seria bem esse o termo para o que sentia naquele elevar de areia crescente e analogamente uma enchente de desejo anónimo.
Sem aviso a areia parou, o vento amainou, o sol de chapa ofuscou o contemplar da menina, que serrou os olhos na feroz luta contra o excesso violento de luz. Do desconhecido, lá bem do fundo, perdido e em jeito de eco, veio um aroma quente, um odor diferente, um cheiro adocicadamente amargo e apaixonante, que fez crescer na menina um anseio sensual, os sons da natureza que conhecia como sua, misturavam-se com sons desconhecidos de um outro lugar que não o seu… mas tudo acabou num rodopiar desconcertantemente agressivo, um arrancar violento de um momento inesquecível, e a menina ficou perdida no meio da areia, ficou esticada, deitada num supremo susto, despenteada e de olhar embaçado, o coração acelerado batia-lhe contra a areia desarrumada, já não havia duna e nascia certo um buraco em moinho. E ficava ela ali, inerte, deitada, sentia-se descer por aquele cone moroso, adormecia por vezes na escuridão do V, até que acordou com o corpo colado num transparentemente e lúcido ver, ficou deitada como estava, de barriga para baixo e olhar fixo na imagem que via, alguém sentado lá em baixo numa duna, de pernas esticadas e com as mãos juntas em forma de concha, aparava os últimos grãos de areia que caiam, a menina colou ainda mais o seu rosto àquele transparente amorfo, e ao mexer-se sentiu cair-lhe um pé num vazio insólito… de seguida num bravo arrastão, sentiu outra viragem suprema, caiu violentamente num gélido chão, ficou imóvel e esteticamente sentada, caia-lhe agora os primeiros grãos de areia na sua franja afilada… sorriu quando olhou para um dos seus pés e viu-o descalço, sorriu ainda mais pois agora já conhecia o tempo. Pensou no sapato perdido e pela primeira vez falou: - já passou um sapato, um dia estarei de corpo a teu lado!
História para a minha Matilde.
uma menina que estava sentada numa duna, o dia lá às vezes era claro e brilhante, fazia sol e muito calor, outras vezes escurecia, fazia vento e vinha a noite espantosamente fria e pavorosa. Mas a menina estava sempre ali, sentada, de pernas esticadas, outras vezes enlaçadas ou mesmo juntas ao peito, estava sentada, para ela o tempo não dizia nada, não conhecia a palavra nem sabia o seu significado e muito menos o seu sentido. Conhecia nos seus olhos coloridos a luz do sol e o calor, conhecia o escuro da noite e o vento frio. Abria um sorriso radioso quando a leve brisa desenhava “ss” de areia no seu rosto branco vivamente liso, esfoliado pela areia constante. Os seus cabelos finamente rebeldes esvoaçavam em bandeira ao sabor das correntes quentes e frias do alto daquela duna. Tinha vezes que incrivelmente por cima dela delineava-se um gigante círculo perfeito de sombra, que ia diminuído ao ritmo da areia que lhe caia sobre o colo e escorregava pelo ventre. A duna aumentava e com ela diminuía a sombra e engrandecia a esperança, a menina não sabia de que esperança se tratava, nem se seria bem esse o termo para o que sentia naquele elevar de areia crescente e analogamente uma enchente de desejo anónimo.
Sem aviso a areia parou, o vento amainou, o sol de chapa ofuscou o contemplar da menina, que serrou os olhos na feroz luta contra o excesso violento de luz. Do desconhecido, lá bem do fundo, perdido e em jeito de eco, veio um aroma quente, um odor diferente, um cheiro adocicadamente amargo e apaixonante, que fez crescer na menina um anseio sensual, os sons da natureza que conhecia como sua, misturavam-se com sons desconhecidos de um outro lugar que não o seu… mas tudo acabou num rodopiar desconcertantemente agressivo, um arrancar violento de um momento inesquecível, e a menina ficou perdida no meio da areia, ficou esticada, deitada num supremo susto, despenteada e de olhar embaçado, o coração acelerado batia-lhe contra a areia desarrumada, já não havia duna e nascia certo um buraco em moinho. E ficava ela ali, inerte, deitada, sentia-se descer por aquele cone moroso, adormecia por vezes na escuridão do V, até que acordou com o corpo colado num transparentemente e lúcido ver, ficou deitada como estava, de barriga para baixo e olhar fixo na imagem que via, alguém sentado lá em baixo numa duna, de pernas esticadas e com as mãos juntas em forma de concha, aparava os últimos grãos de areia que caiam, a menina colou ainda mais o seu rosto àquele transparente amorfo, e ao mexer-se sentiu cair-lhe um pé num vazio insólito… de seguida num bravo arrastão, sentiu outra viragem suprema, caiu violentamente num gélido chão, ficou imóvel e esteticamente sentada, caia-lhe agora os primeiros grãos de areia na sua franja afilada… sorriu quando olhou para um dos seus pés e viu-o descalço, sorriu ainda mais pois agora já conhecia o tempo. Pensou no sapato perdido e pela primeira vez falou: - já passou um sapato, um dia estarei de corpo a teu lado!
História para a minha Matilde.
2 comentários:
Cara Picos...muito gosto em saber que este blogue é seu! :D e que bom que ele é! conta com a minha passagem aqui todos os dias! Parabéns!
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Cara Jolas, ...muito obrigada pela visita inesperada! Saberei retribuir tal gentileza de suas visitas por este meu singelo T0.
Fico sempre contente de aparecer mais um amigo para a festa!
Beijolas.;-)
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