quarta-feira, 19 de setembro de 2012

sonho privado


É assim que te tenho desejado
num sonho tão privado
Assim, respirar abalado
no meu ser desassossegado
Assim, sonho realizado
num apetite não limitado
Assim, real e apertado
num falar tão arfado...

domingo, 16 de setembro de 2012

Ca.ir





Cairão,
Sem razão lágrimas molhadas, avistam um chover como quando chove à séria, e do chão seco de fim de verão sairá o bafo quente da humidade presa.


Cairão,
Esculpem o seu Eros a paixão,  um ser tão gigante e sossegado num abraço apertado, debruado e magoado e que é  forte e confessado, pintado a negras nódoas escavadas.


Cairão,
Loucos num colchão, sobre um qualquer tecto ou não, embaraçam o que já não vive de ilusão, engolem a solidão.

Cairão,
Libertos dos “ss” dos “ses” e de todos os “talvez não” e se amam sem acto abstracto sobre uma tal razão.

Cairão,
Cultivaram sabores desejados, cheiros emanados e todos sonhos visionados, anseiam ver crescer garbosas folhas, flores e frutos que depois...

Cairão. 

 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

TU.do




Amanheceu, um sol forte a rasgar os pequenos orifícios que ficaram por fechar na noite anterior. Acordei como se nunca tivesse chegado a adormecer, dormência tranquila. Abro os olhos devagar, o cérebro desligado, sorrio mansa, mas malvado! nem um segundo sossegado. Chegas,  arrombando a porta desta casa onde mora o meu  pensamento que é teu. E vens, enrolaste comigo, encostas o rosto nos meus cabelos ainda húmidos, adormecidos sobre um lavado. E inspiras forte, cheirando como quem suga por uma palha sedento de um líquido. Enrolas os teus braços e envolves-me em ti, as tuas pernas nas minhas e cheiras-me, e eu cheiro-te e és tu. Afinal és tu, és pele acre adocicada, és paz e tempestade, és sossego desassossegado, e fica, fica... aqui, és tu.
Fecho os olhos e quero, aperto-te com mais força, preciso te encontrar aqui, aqui onde durmo dentro deste meu corpo desligado. Fica...
Amanheceu, um sol forte que viola o desejo sonhado, rasga ainda mais os pequenos orifícios que ficaram esquecidos. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

na (nossa) bolha




Riam, melhor gargalhavam, como dois putos que encontram uma bola num beco improvável e perdem a noção que mesmo a possuindo, nunca a poderiam fazer rolar num qualquer lugar.
Não se conheciam. Não como amigos, conheciam-se e isso por si só chegava.
Escreviam horas infindas, a letras que emanavam encanto, beleza, tentação e tesão. Mas faltava o todo do tudo essencial, faltava-lhes o toque que arrepia e com ele os sabores, os cheiros. Faltava os olhos que cobiçam e embaraçam, os olhos para se encherem de ver de tudo o quanto eram bonitos para se desejar e querer. Faltava-lhes os olhos. E eram tão bonitos os seus olhos...
Não cegando por os não ter, mas já cegos por não os possuir, sem visionar, queriam arriscar, com a mesma tentação sobre um mirar guloso numa linha branca num espelho a brilhar.
E és tão bonita pensava ele.
E és tão bonito pensava ela.