O LIVRO DA SEMANA
" O teu cheiro surpreendeu-me pela delicadeza e pela névoa erótica. Encostei o meu braço ao teu e começei a transpirar. Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos -por isso o sistema se cansa tanto a substutuí-lo pelo sexo, coisa gráfica, aparentemente moldável. Também não era foder, fornicar, copular - essas palavras violentas com que tentamos rebentar o amor. Como se fosse possível. Como se o amor não fosse exactamente essa fornicação metafísica que não nos diz respeito - sofremos-lhe apenas os estilhaços, que nos roubam vida e vontade. Eu queria oferecer-te o meu corpo para que o absorvesses no teu. Para que me fizesses desaparecer nos teus ossos. Eu, educado no preceito alimentar de que os rapazes comem as raparigas, depois de uma vida inteira de domínio dos talheres queria agora ser comido por ti." - Inês Pedrosa, Fazes-me Falta.
2 comentários:
É agreste a escrita de Inês Pedrosa nesse excerto. Não li a obra e talvez por isso não entenda bem algumas afirmações. Também não creio que sejam afirmações de quem quer fazer tese sobre o amor, são fragmentos de pensamentos. Seja como for, não vejo o amor como o sentir de estilhaços que nos ferem, algo metafísico e inatingível que desaba doloroso e dramático. Talvez apenas quando o amor já tem os contornos do não correspondido, os traços de uma vã obsessão... Será?
Não percebo nada do amor... Não percebo nada de nada do amor! Mas gosto dele! Não me encontro nele... perco-me nele... nunca sei nada dele... Desse amor a pares partilhado...
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