quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Escritos de Verão

Pico 2
Agosto
Noite mexida!
O sol tinha poucas horas de nascido e em bando escolhíamos as melhores armas! Íamos para os novos caniçais de canivete na mão, afiávamos as melhores canas verdes, o verão tórrido daquele Agosto já queimava muitos dos campos daquela zona galega.
- Rapariga, tu larga-me essas canas verdes que te fazem alergia, ficas com o corpo cheio de babas!
- Tá bem mamã, está bem!
As babas não deixavam desistir ninguém da magia de afiar canas e de as ter em punho para correr pelos campos atrás das lebres, entrar nas grutas carregadas de teias de aranhas e sentir o cabelo esvoaçar à passagem de mais de dúzia de pequenos morcegos, subir às figueiras e espetar os melhores figos da ramada mais acima - os treze anos eram tão fascinantes, tão libertos de tudo - e as canas tinham a validade de um dia, no outro o ritual iniciava-se como fosse a primeira cana afiada da vida.
Numa matinal demanda à cana perfeita, uma forte dor de barriga assombrara aquela busca, algo de estranho sentira no corpo, correra para casa lançada à casa de banho…
- Mamã!!!! (Aterrorizada)
- Ai minha filha já és uma senhora!!!
Já era uma senhora? A cana meio afiada encostada à pequena janela da casa de banho caíra no chão no exacto conhecimento de se ser mulherzinha. Não percebeu tal como eu, o porquê que a deixara a meio, e afinal qual a razão para um dia se ser senhora no meio de se ser infante!
Durante uma semana deixara de ir às canas, de correr atrás das lebres e muito menos de subir às árvores ou andar à chinchada. A “almofada” alojada nas cuecas era inibidora de qualquer aventura. Acabara ali as façanhas de Maria rapazola. Novas afiadelas surgiram, em moldes totalmente diferentes.
Daí se passara vinte e quatro Agostos. No Agosto passado sublinhava às amigas, com orgulho, a aventura que fora acampar sozinha, já pouco existia para fazer desacompanhada, já que até era adepta de exposições, cinema e teatro em formato singular.
Em Agosto estou, e numa noite de lua cheia acordei lavada em suor estimulada por tamanho sonho erótico – não, não sonhara com canas verdes – desde o tempo em que passei a ser mulherzinha, quando aparecera os primeiros desejos sexuais em formato sonho, embaracei-os, enganei-os e não lhes dei grandes asas para voar. Camuflava o sentido do desejo num toque rápido e num xixi imediato para acalmar os ânimos acessos e dormir apressadamente. Porquê não sei, tal como não sei porque deixei de correr atrás dos coelhos selvagens, de roubar fruta e fugir, de entrar nas minas de água cristalina e deixa-las barrentas impróprias para beber durante dias, de saltar em vôo para cima das barbas de milho que secavam em caminhas nas eiras soalheiras, de me encher de pulgas e carraças ao rebolar pelos verdes chãos impressionistas, tracinhos coloridos das várias cores das florinhas do campo. Estou eu pela primeira noite mexida, voada, levada pelo sexo secreto do só, montei a cama sozinha, tudo só para mim, sem conversões a frustrações, atingi um gozo fenomenal, feri excelência, subi a apreciação de mim, surpreendi talento meu, agora sim,
Mulher.

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