Quando era
miúda não gostava de morangos.
Não há muito
tempo, queria eu lá saber do que não gostava! Com convicção, encarava sem
dramas o que eu gostava. E era tanta a bagagem do saber bem querer, que pouco
restava para alarmar no onde se acondicionar o não se apreciar. Tenho saudades.
Mentira! Vivo num sentimento de extravio desse entender. Igual, a quem
leva como seguro e despreocupado, num bolso de um agasalho, um qualquer papelinho
rabiscado a lembrança, e sem saber como, deu-se-lhe sumisse. E esse arcaico
lembrete ficou para lá, caído sem juízo numa calçada qualquer ou numa escadaria
da Mouraria da minha vida.
Não gostava
de morangos e pronto! Também os havia, aqueles que não gostassem de chocolate e
merecessem igual cerrar de sobrolho? Havia.
Como? Como achar
ou assumir que tudo é bem mais importante agora do que outrora. E eu só não
gostava de morangos...
Angustia-me o
dia, abala-me a noite que era por si só tão fácil e protegida.
Aprendemos
tanto na infância, estragamos muito mais depois.
Deixem-me só
não gostar de morangos doces e amar laranjas ácidas.
Como me
proteger e lembrar que amo? E como deixar que um alguém me ame mesmo sabendo que eu um dia só não gostava de morangos?
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