Amanheceu, um sol forte a rasgar
os pequenos orifícios que ficaram por fechar na noite anterior. Acordei como se
nunca tivesse chegado a adormecer, dormência tranquila. Abro os olhos devagar,
o cérebro desligado, sorrio mansa, mas malvado! nem um segundo sossegado.
Chegas, arrombando a porta desta
casa onde mora o meu pensamento
que é teu. E vens, enrolaste comigo, encostas o rosto nos meus cabelos ainda
húmidos, adormecidos sobre um lavado. E inspiras forte, cheirando como quem
suga por uma palha sedento de um líquido. Enrolas os teus braços e envolves-me
em ti, as tuas pernas nas minhas e cheiras-me, e eu cheiro-te e és tu. Afinal
és tu, és pele acre adocicada, és paz e tempestade, és sossego desassossegado,
e fica, fica... aqui, és tu.
Fecho os olhos e quero, aperto-te
com mais força, preciso te encontrar aqui, aqui onde durmo dentro deste meu
corpo desligado. Fica...
Amanheceu, um sol forte que
viola o desejo sonhado, rasga ainda mais os pequenos orifícios que ficaram
esquecidos.