domingo, 19 de setembro de 2010

Aflige

Nada de grave. Só tira o sono, planta cabelos brancos e vinca linhas pesadas na expressão.

A falta de profissionalismo aflige, a falta de educação, a ausência de boas atitudes, aflige. Aflige o tempo a passar, aflige tudo a piorar, aflige ver afundar um mar sem brio, sem frescura, sem sapiência a explorar. Aflige. Aflige a dissipação de valores importantes, valores que se esbatem dia para dia... e o que não nos mata, enrijece-nos!

Aflige...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Rega

Galguei ao terceiro andar, era nove e pouco, estava um calor abafado, na rua não corria brisa e a noite estava clara.
Ausente de ascensor, subi o primeiro lance de escadas, veio-me ao pensamento os quantos anos iria subir aqueles degraus, aquela escada elipse, estreitamente atrofiante, se mais um andar existisse vomitaria à chegada. Arrepiei-me no suor, cogitei num azar de vida que me impedisse de subi-las, agarrei-me com força à madeira macia do corrimão e avigorei o passo, afinal ainda nova e capaz! Era aquele calor, vindo da clarabóia-estufa do edifício que me estupidificava os pensamentos!
Abri a porta, o cheiro a tintas, madeiras tratadas, cimentos, ceras e afins não encontraram meio de desabitar! É-me agradável tocar nos ainda despidos interruptores e dar luz aquela sala nua, já tão minha, tão acolhedora. Esbocei um sorriso à chegada, como sempre o fizera desde que a sonhei possuir, é minha, é a minha casa!
Contente vou regar as plantas, já há vida por lá, nas varandas, no quarto de banho e uma perdida numa das divisões. Ali vai começar algo, não sei bem o quê, nem exploro a imaginação com suposições, não quero gastar o que ainda nem estreou. Mas sinto que sim, que lá cercada daquelas paredes pintadas a quente vou aninhar no inverno, sonhar no dormir e viver cada despertar. É lá que vou deixar passar tempo por um gargalo estreito de sentir, é, é ali que vou confessar o gasto de beleza e ver chegar as fendas do meu rosto, reflexos sem medo nos espelhos já pendurados. Lá andarei nua de mim e descalça dos outros. Rebolarei no lago espelhado do meu soalho, escreverei as mais de mil linhas entre as fissuras dos tacos cruzados. E depois? Depois babarei o meu sofá pistáchio nas noites de sábado para acordar tarde nas manhãs de domingo e arrastar-me até ao duche, sem mas, nem mais, nem diabo a sete! É um terceiro andar e fui regar...
Fui regar, sim, regar.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Oce ano


No ano passado, quando este blogue era um espaço activo, escrevi “picos de verão”, adorei escreve-los e penso afirmar com alguma justiça que estava bastante inspirada, provavelmente levada pela destreza dos escritos anteriores os “suspiros”. Ambiciono agora algo simples, consciente e refrescante, não arrisco dizer novo, porque não o é, mas sim creio desejar algo consistente em serenidade. Pode parecer estranho já que os últimos textos transbordam de um peso emotivo, carregados quase de desespero do “só”. Mas nada disso, garanto que nunca me senti tão acompanhada no meu estar. E a palavra é percebo-me.
Hoje percebo-me, não fujo em disfarces do talvez ou dos não sei. Sei perfeitamente quem sou, como sou e no que desejo ser. Sei o que sinto, como sinto e o que faço passar como representação do meu estado emocional. Não estou com isto a justificar-me ou a dar explicações, ninguém me as pediu nem eu tenciono esclarecer.
Mas escrever organiza o meu pensamento, o meu estado agitado, quase endividado como o não sei quem!
Perguntam-me se desejo o só. Não, não o desejo, mas também não desejo o conformismo do estar acompanhada. E assim se traduz esta bulha, não sou uma pessoa fácil, mas difícil nem tanto, desordeno sim os encantos do saber viver.
A vida encanta-me, já me preocupa o curta que ela é, a vida um momento, algo já escrito por milhares de milhões, nem tanto mais ou menos ilustres. E o momento é de vontades positivas.
Uma noite destas em sonho revi-me na personalidade da personagem do inconsciente. Sonhava então que amava um ser afável, calmo, meigo, acolhedor e preocupado, um ser definido pela tranquilidade. Mas na ordem do bem estar, eis que chega o agitador de águas. A tempestade faz igualmente parte do mais translúcido e sereno oceano. E como uma catástrofe natural chega o outro ser. Amei-o automaticamente à sua chegada, sem tempo nem vontade de consciencializar. Um ser luzidio, envolto em brilhos flashados, alegremente desmedido, activo e transcendentalmente agitado, todo o seu ser emanava emoções fortes.
Acordei como se nunca tivesse adormecido, aquilo era a tradução do meu desassossego emocional. Esclarecida pelo já sabido, fechei os olhos e porém adormeci.
Foto: Anna Silveira

sábado, 21 de agosto de 2010

A 80


Acordei ainda com um dos olhos inchado, não sei se será uma inflamação normal ou algo provocado por um pesadelo agitado, daqueles com direito a autoesmurrar-me!
É algo estranho acordar com os olhos colados em ramelas pegajosas, pensamos logo em algo grave. Esta sensação não é inédita, já que todos a sentimos, quem nunca teve uma conjuntivite? Pois..., lá lavei a cara com água corrente, noutra altura a minha mãe faria um pasto de água de rosas, como diz, “é o mais indicado!”. Ainda hoje me recordo desse mimo com cheiro a rosas e nem me importava de estar carregadinha de conjuntivite pelo encanto dos cuidados seguintes, pastos mornos de água de rosas, enfim nostalgia, mas não é sobre a água de rosas, nem de olhos congestionados que hoje vou divagar, mas sim de um sonho de rádio, ao sabor da M80!
Ontem o amigo Mosca vinha todo contente porque tinha descoberto a M80, em busca de uma musiquinha que o acompanhasse na viagem a caminho do Meco deu com ela. Chegou airoso, “as músicas do nosso tempo, todos os êxitos dos anos 70, 80 e 90!”, Dizia ele todo contente.
Com a mesma rádio partimos hoje de regresso a casa. Sintonizei - coisa difícil já que pela 4ª vez me fanam a antena do carro - e fiz-me à estrada, senti o coração a palpitar no olho avolumado, o carro estava ao sol e o calor fez ressentira a inflamação. Toca kenny Rogers & sheena Easton em We've got tonight, céusssss, ui, ui os olhos encheram-se de lágrimas, quero crer pela cabra da inflamação! Quis parar a inundação, mas achei que tal lavagem só poderia favorecer, até mesmo curar a maleita! Mas depois dos amigos Kenny & Sheena, aparece sem aviso, cai no charco em que me afogava a doce Sade. Pára! AcaVou, ACAVOU!!! Desliguei a maldita M80!
E amanhã? Amanhã sintonizo outra vez!


domingo, 15 de agosto de 2010

Despertar

Pensava que já ninguém lia este blogue. É certo que não o acaricio com fugas tristes ou alegres vai tempo. Terpicos, a princípio, e como diz na introdução do blogue é um nervosismo miudinho para fazer algo que se gosta! No início era isso mesmo, nasceu numa passagem da vida, digamos que diferente do que até ali.

Ontem abri o blogue e vi um comentário anónimo ao post anterior, e no anonimato diz que gosta de ler o que eu escrevo. Fiquei contente é certo, ainda mais quando o espaço está totalmente parado. Sorri, fechei o blogue e pensei – não tenho nada mesmo para escrever! – o que era um local de início de picos de felicidade passou a desabafos não tão contentes. Hoje nesse registo, escrevo mais um desabafo, nesta manhã diferente das últimas manhãs...

Quando era miúda tinha muito mau acordar, chorava e não gostava de ser acordada por ninguém, pior quando sabia que era para ir para a escola encarar a Prof. Coelho, que só de a ver dava-me calafrios. Depois, na adolescência, resolvera não falar com ninguém nas primeiras hora a seguir ao acordar, era escusado dirigirem-me palavra, não ouvia e muito menos respondia. Depois, por força do crescer e ao despertar do meu rebento com “ mãeeee acorda! Quero o meu leitinho!”, passei a não ter remédio se não acordar feliz por ir fazer 300cl de leitinho com Nesquik , maior parte das vezes a cair de sono dada a madruga hora ou quando depois de uma breve sesta era acordada por dedos tão finos como farpas pelos meus olhos ensonados e“ mãeee acorda, mete-me o DVD do Toy Story” que ela vira-o pelo menos umas 50 vezes!

A vida é uma troca voltas! Agora a minha filha já faz o pequeno almoço e eu já não durmo sestas e por vezes tenho a sorte de não ser acordada!

Hoje despertada por um formigueiro num ombro, acordei no sobressalto de um possível bicho maléfico, feroz que me quisesse sugar o sangue. Mas não, era simplesmente o amigo. Acordei de susto, vi a sua cara de feliz e contente. Deu-me um chega para lá e deitou-se a meu lado, um beijo afagado no meu rosto ainda babado, e um bom dia animado! Questionei-o da hora tardia a que se deitara pois nem o senti chegar. Afirmei no gozo “ isso é que é namorar na net até às tantas!” resposta “ nada disso, namorar é para a semana ao vivo e a cores!”

Fiquei feliz, ele merece uma Sra. Gaja, mas felicidades à parte naquela confissão de amigo caiu-me a solidão. Mais um arrumado e menos um para jogar às cartas! Claro como ele diz “ amiga eu faço-me à vida!” Pois,... pois... talvez eu não saiba fazer-me à vida, ou melhor respondi-lhe “ amigo, é que eu sou uma chata de galochas! “

P.s= Um beijo ao anónimo do post anterior . Obrigada.

domingo, 27 de junho de 2010

Simples engate

Fixa o meu olhar
E é tão fácil me engatar
Há qualquer coisa que prende o olhar
Sentir o querer provar
derramar vontade de encontrar
O quente que vai descongelar
o frio cinzento do luar
E é tão fácil me engatar
Sem deixar andar
adormecer nas luzes de cores que vais pintar
Todo o quente teu derreter deste frio meu estar
Vem descobrir o novo respirar
E é tão fácil me engatar
Há razão para mergulhar
no que há para encontrar
A minha casa escura a encher
A minha caixa vazia armadilhar
na explosão das veias bombear
Vem vincar os passos de minha areia por ajardinar
Brincar no meu corpo a gostar
Brindar ao engate do primeiro olhar
E é tão fácil me engatar
E é tão simples agradar.

sábado, 26 de junho de 2010

água que lEva tudo

Hoje não tenho água! Bolas, há mais de duas horas que estou acordada e os gajos ainda não taparam a fuga no cano lá ao fundo da rua! Logo hoje que acordei com vontade de me por bela e bem cheirosa. Sim é verdade, este mês foi bem fedorento, claro está que passei diariamente água por este corpo com um qualquer gel de banho do minipreço, pois acabara-me o gel de banho xpto que a minha querida cunhada me oferecera, o body lotion de maçãs verdes já era, o creme facial hiper-hidratante já sofrera uma tesourada na horizontal ao qual meto os meus dedos à grande e rapo-lhe as paredes já secas, uma desgraça! Ui e o perfume, o de sempre, acabou à três dias ...miséria!!!

E ainda não veio a água...

E este mês foi péssimo, mesmo tão mau, logo o mês de Junho que gosto pelo nascer do verão.

Quero tomar banho, lavar a pele e a mente, encher a boca de água e raspar a língua, quero esfregar até ao osso, branquear a memoria, quero-me lavar por dentro e por fora, quero esquecer o sujo de à pouco e abrilhantar o bom deste segundo, agora!

Dai-me água por favor...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

day a ti

Gosto de ti, quer dizer desejo-te, sim é isso desejo-te, gostar sei lá! Gosto. Não espera! ...gosto? Desejo! Isso, desejo. Mas porquê? Que parvoíce minha, sei lá do que gosto e de que desejo se trata! Será solidão? Mimo? Sisma? Querer? Querer porque sim? Sim é isso, querer por querer. Mas de que te falo eu? Ah sim gosto de ti. Sim de ti! Oh não sejas assim, claro que é de ti, ...sim tu!
Vês eu sabia que ias gostar de saber que sim. Porquê? Porque sim!


...
Sabes lá tu do que falas!

domingo, 23 de maio de 2010

A nu

E é tão fácil enfiar o corpo em lençóis de outros, confiamos numa vaga esperança de preencher em nós o espaço vazio, o solitário sentimento perdido no nosso ser... deleito-me em ti, em ti amigo colorido, e em ti desejo tornar-me o desejo de alguém, fingindo definir quem nos ama não amando, nos dá carinho compensando, nos mima verbalizando.

E ontem acharam-me bonita e hoje bela e isso só não me chega. As verdades são longas, inteligentes, certeiras, as mentiras curtas, amargas e tão bem dolorosas...

Foto "nua na rua" - Pedro de Sá

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Pontes

O desânimo leva ao silêncio.
O silêncio que é amigo, correcto e saudável, leva ao sentimento.
O sentimento, o que oculta um passado, constrói um presente e sonha num futuro risonho, leva a ser forte.
Ser forte na inteligência emocional e quebrar na sensibilidade sentimental, leva à contradição.
A contradição não a é, a quem atingir sensação.
A sensação foi, quando voltará a ser?
Reflectir, perceber, sentir…
Ontem foi feio, ontem leva-nos ao hoje, hoje será a cegueira do amanhã.

segunda-feira, 8 de março de 2010

ANA

Hoje no carro pensava – adoro pensar no carro, sempre acontece a conduzir – na palavra MULHER. Ao som das escovas do pára-brisas via a mulher, a mulher de hoje. Chamemos-lhe Ana, todos temos uma Ana na vida, mãe, irmã, namorada, amiga, filha, colega, enfim, quem não tem uma? E quando não se tem, gostamos de imaginar uma Ana qualquer.
Hoje essa Ana, é uma Ana. Uma senhora Ana!
Quando dei à luz este blogue, na primeira postagem dediquei-o a todas as Ritas da minha vida, e porquê?, porque elas foram sempre Ritas marcantes. Eu seria uma, se o meu progenitor não fosse líder e à última da hora superasse a vontade da senhora minha mãe, que ambicionava uma Rita. Rita não fui, mas amei e amo muitas Ritas. Penso então numa Ana Rita, isso sim é supremo.
Ana não tenho, Rita não fui, mas sim, sou uma Mulher marcante!
Mas não! Fiquemos apenas hoje com uma Ana mulher. Hoje, neste dia assinalado. Quem me conhece sabe que aprendi a não assinalar nada! As coisas são o que são, e vão sendo o que delas deixamos ser. Este post fala assim de uma Ana.
Ana, é curioso, o quanto de tanto poderia eu dizer sobre ti, tu uma Ana qualquer, tu uma Ana MULHER.
Foto Pedro Cabral

sexta-feira, 5 de março de 2010

A.Deus

Sorte a minha, sinto-me mesmo uma mulher feliz, adoro-me, amo-me! Hoje beijava uma foto minha, lambia um espelho reflexo meu! Sinto-me honradamente majestosa. Chauvinista do meu ser? Sim! Narcisista? Hoje muito!
Sou grande quando me revejo nas palavras que profiro, nas que escrevo e ainda mais nas que penso!
Tenho dias, e hoje até está de chuva e não é costume me elevar em dias cinzentos, logo hoje ainda é mais especial! E especial como sou, ÚNICA, como sempre me nomearam para Óscar, os(as) personagens de meus filmes . Se ganhei algum? Não tenho prateleiras vazias em casa, nunca os aceitei, só por essa mesma razão, minto, por outra razão não menos importante, odeio limpar pó! E o pó, esse ou qualquer tipo de pó, por vezes um só sopro não nos chega para o fazer andar de nossas vidas, mas sou gaja de bons pulmões, enchi-os, esculpi bochechas balão, fiz biquinho de pássaro e soprei, um só sopro e o pó voou.
Gosto bem de mim!

terça-feira, 2 de março de 2010

Picos Altos e Baixos

B- Estás bem?
P - Sim, estou!
B - Estás mesmo bem?
P - Sim, já disse que sim!!!
B - Mas desculpa, mas estás assim … mesmo bem?
P -Dassss, ESTOU BEM CRL!!!!

Estou surpresa direi, e gosto!
Batia 11 de Janeiro, até ali achava construído o topo do meu castelo, mas este desmoronou-se de tão primário ser. Fora rápido, julguei de um vento simples, mas não. De um tornado se tratara!
Tudo passou, tudo passa demasiado depressa, tão veloz que é, …é-me atroz olhar para trás, assusta-me esta velocidade…
Ontem corria dentro de umas botas vermelhas ortopédicas, chorava horrores de tão feias que eram e o que me apertavam. Apertavam de um jeito que ainda hoje as sinto nos pés. Estou com elas, estou calçada com elas agora, olho para os meus pés, vejo-as horrendas de sorriso quadrado, e dizem-me, afrontam-me contentes e loucas: - Queres-te descalçar???, putas!!! …penso, se as vou descalçar, e não, não vou! - Vivo com vocês nos meus pés desde sempre, deram-me o bom andar, porque vos hei-de tirar?! Sim, porquê? … Calaram-se as putas, pelo silêncio percebi que as vencera, e como uma brisa, um vento puxando um nevoeiro dissipou aquela imagem…
Enfiada nos meus chinelos felpudos, fiquei.
Dia 11 de Janeiro, ali começou a crença de mudança, os anos passados foram recheados de picos altos, picos baixos, neles cresci, como qualquer um. Tornei-me piquenta, picolha, picosa, picona enfim, Picos. Aperaltei-me no vestir, nesse meu fato arroxeado com que me apresentava, por ele passaram as festas da vida, só as festas, as glamorosas, e até as do entulho, muitas festas, o vestido questiona-me com voz melosa, já mais embebido que o roxo vinho de uvas maduras: - Corro o fecho minha querida???, paneleiro!!! …penso, se o vou vestir ou despir, e… - Sim, porque não te despir?! Sim diz-me vestido, porque não te despir? Quero a liberdade na pele, o vento a furar alargando-me os poros, o sol a barrar o tom da minha pele, sai, sai…! Lixado abandona-me o corpo resmungando, soltando a sua língua maldosa dizendo: - Mesmo que te quisesse correr o fecho, já não te servia, gorda de merda! Solto um riso apetecido de há muito, rio tanto que choro, as lágrimas projectadas como nos desenhos animados, em esguicho de torneira com falta de borracha. E sigo, sigo nua, despida de apertos, nua de trajes.
Dispo o pijama, quero-me nua.
Dia 11 de Janeiro, foi ali há pouco, mesmo ali atrás, e tudo mudou, tudo mudou. Quero muito, o muito querer, quero o tudo o que posso ter, agora descalça, agora nua, quero o meu bem-querer, quero o teu desejo me ter.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Gota de adeus

- Conta-me dessa lágrima… tão bonita…
Quando voltares é porque não esqueceste o que viste, assim virás dizer que viste, que também sentiste, o quanto eu desejava e tu desejavas me dizer.
No meu lugar, não te queria afastar, mas que soubesses deter o tempo e o me pudesses dar. Um sonho difícil de acordar, ficar no teu enlaço, quero ficar, ficar nos teus braços, e nunca mais largar, o esperar, a ilusão, chamar por ti, fixar o teu respirar, o teu aninhar, o teu olhar, nunca mais largar esse olhar. Quando voltas? Quando vens? O que me vais dizer dessa tua gota de adeus?
Que não desencaixes o teu corpo do meu? Ou não desencaixes o teu corpo do meu! …não desencaixes…

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tu

és tu!
Há tempo de mais que não vibro, já há tanto que não flutuo e há imenso que não me drogo de desejo e me perco na vontade. Há demasiado tempo que não salto a janela, que não me afogo em águas turvas de ardente paixão, mais tempo ainda que não sinto tesão, que não perco o apetite, não perco a razão, já há muito, já há tanto que não sinto…
Vem, mas nunca só… traz contigo o desejo.
E depois, volta e leva-me para casa, e ensina-me esta canção...

.
Que és ...lar onde eu queria ir...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Frio

Sejamos altos, magros, baixos, gordos, bonitos, feios, sonhamos… Sonhamos pensando que é chegar e vencer, perdemos sonhando o momento, e sem demora inventamos por ver não ser capaz, sonhamos para dizer que sonhámos para esquecer, eu sei, não vais sequer perceber…
Foto - Geisa- Não,não me despertes, deixe-me sonhar ...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

De cortar à faca!

Hoje acordei de birra.
Hoje está um frio de cortar à faca!
Hoje apetece-me dizer frio, está muito frio e rir…, como no jogo em criança quando me lembro de brincar com o pai, escondia um brinquedo e era vê-lo de gatas procurando o brinquedo ao som dos meus guinchos de contente por tamanha atenção e gritar delirante, está frio papá, muito friooooo… Adorava aquela brincadeira em que me sentia grande perante um pai enorme.
Hoje chegaram-me aos picos.
Hoje estou de cortar à faca!
Hoje tenho a língua enrolada e pronta a deixa-la desencaracolar e escrever como se tratando de manifesto colérico. Por isso se aprumem!
Hoje pensei em muito e ainda vou a esta hora da manhã, mas quando publicar isto talvez já seja tantas da noite, porque me parece bem que tenho de almoçar, lanchar e jantar todas as palavras que me saltam como pipocas quentinhas e acabadinhas de estalar no tacho.
Hoje abri a porta e entrou este areje gélido!
Hoje estais lixados comigo, se se derem ao trabalho de ler tudo isto que julgo agora conseguir expressar até ao fim, como um quadro esculpido que no desfecho frustrante só sonha quem o imaginou.
Hoje pensava no ontem e em muitos pormenores ouvidos no antigamente por muitos acreditados homens.
Hoje é para eles, para ti e para aquele, é para quem se sinta espelhado neste encalacro fraseio.
Hoje, agora mesmo penso no que vou debater e não me importa nada com o tamanho ou como vai doer.
Eu hoje na minha e tu na tua!
Um dia, não no dia de hoje, mas num determinado dia ouvira dizer;
Se fosse uma gaja era uma putona!
Querendo o ilustre homem dizer que gostava era das mulheres frescas, aclaradas, sem papas na língua, mas igualmente gesticulando que se apresentaria com indumentária realçadora de suas supostas curva se fosse a tal gaja.
Eu gostava de ser gaja, isso é que era! Papava os man´s com uma pinta do caralho!
Querendo outro distinto rapaz dizer que as fêmeas são uns autênticos estrunfes sexuais!
Eu gosto é das inglesas! Elas sim não têm cá as merdas das Tugas metidas a finas! Se eu fosse gaja Tuga ia mostrar como é o puro-sangue lusitano!
Querendo o célebre macho dizer, que as mulheres portuguesa aparentam-se à moda da linha mas no fundo são umas autenticas pacóvias cheias de números, mas os que vêm colados aos cifrões! E cavalgadas não são para elas. E para rematar ao invés de elegantes éguas lustrosas, são sim autênticas burras cinzentas!
E como estas teria umas quantas mais orações ilustrativas, declaradoras de desejo deles por elas, sensuais mulheres emancipadas; arrojadas; loucamente femininas; astutas; independentes; sexualmente ferozes e capazes de os levar ao chão em segundos e degustá-los avidamente!
Penso então porque fogem os tão ilustres cavalheiros aquando se lhes apresenta uma mulher assim?
Responderam prontamente, intimidados e de cara atónita; QUE MEDO! No fundo querem-nas puritaníssimas; enjoadíssimas; sossegadinhas; caladinhas; finórias; mansas; dependentes e de boa anca para lhes trazer os futuros filhos a colo!
Homens, filhos de uma grande e generosa mãe que os criou ao sabor do mimo, e de que nunca lhes foi cortado sério umbigo! Saem de um saco amniótico para se instalar como uma bactéria cínica nos seios de uma qualquer mulher que aos olhos de outros se apresentem sacras.
E isto não pensem que é um golpe baixo, não, não é, pois gosto muito deles, mas de facto odeio falsos moralismos e cinismos de bolso! Por isso recomendo que fiquem caladinhos e pensem duas vezes antes de apregoarem que se fossem gajas seriam umas vacas com assas ou umas bezerrinhas enfadonhas!
E com esta publico este meu vómito raivoso, peço desculpa mas tinha de ser. Confiante sei que vos vai até parecer bem, pois ver esta picos temperamental é sempre de rir.
Avisei que hoje é de cortar à faca!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Estranho


Baixou o rosto como um cachorro a pedir algo mais;
- Diga-me três coisas, que espera ou ambiciona conseguir?
Ela sorriu, por segundos rolou-lhe bem mais que três coisas, passara-lhe à velocidade de uma fita de película rasgada durante a rodagem. Num frame ambicionou mil coisas, imaginou, fantasiou, traçou aquele momento infindável, mas chegou o real batendo à porta a nó de dedo. O rodar rápido da cabeça dele fora denunciador de embaraço, igualmente acordado da situação constrangedora. Ela enrolou o corpo na desconfortável cadeira de plástico e subiu um joelho ao queixo, ainda em silêncio observou-o a toca no botão da aparelhagem produtora de ambiente à sala. Sem olhar para ela, voltou à questão;
- Sim, o que espera alcançar, quais os seus objectivos?

(-Bem, espero levantar-me desta horrenda cadeira, despir-me para ti ao ritmo do teu olhar, rodar-te, separa as minhas pernas nuas e enlaça-las, enrola-las encaixando-as no teu corpo sentado, depois beijar-te, apertar o teu rosto contra os meus seios e morder-te, snifar o teu pescoço e despir-te, despir-te apressadamente!)

- Bem, espero alcançar a boa forma física para uma mulher da minha idade!

(- Tratarei disso, então não tratarei…, planearei um treino baseado nesse teu sorriso maluco, traçarei ao sabor desse teu cheiro fresco que me está a tirar do sério, projectarei movimentos sensuais para esse corpo que quero ver virado ao contrário, deitado num colchão e consumi-lo com prazer incalculável de quem anseia perder calorias!)

- Ok, na próxima semana terá o seu plano de treino! Vamos começar a aula?
Ela pensa, será começar a aula ou, …vamos começar o jogo?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Sempre a vira assim

Foto Hélder Vasconcelos
…sim, sim, …mas naquele dia tinha posto tudo em jogo, …eu sei que sim... sim, tudo será demasiado perigoso...sinto-me mal saber que quero fazer isso…
Desligou o telefone do escritório e os pensamentos voaram-lhe. Como era possível após tantos anos o efeito em si ser o mesmo, aquela mulher mexia com ele estupidamente. Sonhara libar longas tardes de cama com ela.
Não dormia em condições após último vislumbre, recordara-se dela, lembrava com embaraço ter-se tocado até madrugada de domingo ao sabor de sua imagem, de seus bicos acesos, tinha esta figuração desde a época da acne juvenil.
A mão pousada, sobre agora uma barriga saliente de homem de meia-idade, escorregara-lhe ao encontro de um pronuncio aparentado sobre as calças de ganga roçada.
Serrou os olhos e viu-os, lindos de morrer, pequenos, redondos seios de bicos fantasticamente tesos.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

esperânsia

Foto Uma quase homenagem a Magritte - Rui Moutinho
"A esperança é mais enganadora que a curiosidade. A Esperança leva-nos rapidamente ao fim da vida. Só que por caminhos agradáveis a curiosidade morre até depois da esperança."

Rui Moutinho

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Boneca

Do embrulho saía uma boneca, entulhavam-me de bonecas, odiava-as! Em protesto despia-as, mergulhava-as num bidé cheio de água gelada coberta a espuma de sabão macaco. Deixava-as lá ao abandono, até lhes cair o cabelo apodrecido o plástico embaçar e os olhos de conta perderem a fantasia de vida. Bonecas enfadonhas, inertes, vestidas a goma, debruadas a renda amarelada, assustadoramente deprimentes.
Vi a boneca viva, a única que não mergulhei em bidé corrente, a boneca que acariciei em lágrimas lavei. A que gostei, que despi, que amai, que por fim abandonei para não ser afastada como uma velha tratadora de bonecas.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Há casinha

menina casinha - Marcos Leal

“PEQUENO grande,
(…) define-se por pequeno um espaço que é demasiado reduzido para o que necessitamos. E não será também altamente discutível a dimensão do que cada um necessita e o que cada um valoriza?” Cristina Belo

Um pequeno grande poiso, e para o que necessito as dimensões são excelentes!

domingo, 10 de janeiro de 2010

TER

Foto José de Almeida & Maria Flores
Como queria ter…
Desejo sempre, desde o tempo que nunca te vi, que nunca te conheci.
Tanto te queria. Queria-te celestial, exclusivo, incomparável, queria-te Zeus, queria-te Vénus, queria-te Ulisses, queria-te Aquiles, queria-te Pessoa, queria-te saído de meu ideal querer!
Naquele tempo, queria ser crescida, ter corpo, banhar-me de curvas errantes, cheirar a amoras quentes, ter olhos azeitona doces, mover-me serpente nesse teu corpo embriagante, gladiar, povoar teu paladar amante. Nesse desconhecido físico ser jubilante, o teu existir flamejante, no meu sonho expirante a menina crescida mirante.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Ana, vai correr tudo bem!
Para si esta música muito especial;

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Prémio Relíquia da Internet

Agradeço o Selo

"Prémio Relíquia da
Internet",

oferecido por LADO B

Miguel, tens sido o lado B mais delicioso de ler. Obrigada.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Paredes de música


Jussara Martins - Pormenor
Dou comigo Pateta! Assim, meio como drogada num sorriso tonto a observar as situações simples da vida, uma idosa que pede o lugar para se sentar, uma criança ali ao fundo simula um bailado no meio do passeio. Estou cansada, hoje estou cansada e estou assim, agora, aqui sentada na sala de espera a sorrir mirando a miúda graúda de fones gigantes, é moda, foram reduzindo de tamanho em busca do prático, mas reduzira-se igualmente a qualidade sonora, assim voltou-se ao que já foi um dia novidade, ouvir musica ao som do volume desejado, num mega headfone… Chega agora uma pequenita de maiô branco, cara de anjinho enviada pela professora de dança à sala dos pais para pedir à mamã que a conduza ao xixi, a mamã dormitava, foi despertada ao bulício de um, mãããããããeeeeee!!! Um pequeno protesto da criatura de pouco mais de 60cm, naquela atitude de abatimento abriu-se um cansado olhar, acordado de sobressalto, uma mãe exausta das comandas tarefas diárias.
Aqui aquece-me os olhos e pelos vistos alegra-me a alma, o sorriso será caso disso?
Aqui escrevo, leio, tenho música clássica tocada a piano de fundo, aqui também dormito, viajo no pensamento semestral, mensal e anual, aqui recomendo-me ponderação, calma e serenidade, aqui planeio se será jantar de refogado, cozido ou grelhado, aqui esqueço o arroz queimado, aqui levam-me os cheiros rudes e trazem-me brisas que enlaçam o alegre.
Aqui tenho carinhosamente tempo forçado.