Entra nos ossos a humidade e o frio de Mira-Sintra, a cor do dia, por lá, nunca é muito clara, sempre há um sol tapado por uma coberta pintada a nevoeiro.
Mira-Sintra, não tem mais de um mês para mim, lá e em tão curto espaço de tempo, fui abraçada duas vezes. Abraços fortes que roçam como um grito em sufoco angustiante. Sufoco meu? Sufoco deles? Será o meu que em grande anseio chama por eles, por esses abraços espontâneos de adolescentes de hormonas ferventes?
Hoje foi uma Carolina, abraçou-me no pátio da escola e em plenos pulmões gritou, "professora linda!!!" por momentos aterrorizei, pensei se aquele entusiasmo seria natural, olhei para ela fixamente, com meus olhos assustados, pânico talvez, de tão bom abraço aquele, que a Carolina desenlaçou-se do meu corpo e encolhida como um cachorro a ser castigado por tamanha audácia, sussurrou em tom bem baixo, "desculpe stôra, mas gosto de si", virou as costas e correu para trás do pavilhão.
Foi a última a entrar na sala, de corpo descontrolado e atitudes desvairadas, um comportamento péssimo durante 90 minutos, não se concentrou nem conseguiu pintar 2 mm de folha. Chamei-a e perguntei o que se passava com ela, sorriu e corou ao mesmo tempo, respondeu-me com uma pergunta, "o mesmo que a professora?", olhei-a em silêncio, um olhar fixo mas estremecido, e pelo meu sossego desassossegado ajudou-me retorquindo com menos segurança, "tenho carências stôra, só isso!"